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Demostração

Revista Magnum Edição 131

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Editorial

-“...fui visitar seu Olivo na cadeia...”

Fazia referência a Olivo Gomes, pai do extinto Severo, o ex-senador que morreu no mesmo acidente que arrancou Ulysses Guimarães da cena política e planetária.

Mario Altenfelder havia sido homem de governo, tendo trabalhado como Secretário da Promoção Social junto a Carvalho Pinto e, salvo engano, também a Paulo Egydio Martins. Ambos Governadores do meu estado. Me contando uma história , e o porquê duma prisão, me fez entrar em contato com aquilo que viria ser pra mim, de certos modos, missão. Senão fardo.

Um tio-avô em roupagem de avô materno, Mario Altenfelder foi o primeiro anti-Vargas que conheci. Meu anti-Vargas favorito. Mudava de olhar quando pronunciava “...Getúlio”, gastando bem uns dois segundos na sílaba tônica (...). E era um convicto. Defensor de justiça, de saúde e do ser humano enfi m. Voluntário, pegou em armas em 1932, combatendo junto aos Constitucionalistas.

Um tempo depois do confl ito - assim me contou -, quando SP já formava no lombo os calos da cangalha que até hoje traz, o velho soube que Olivo Gomes tinha ido pra jaula por posse ilegal de armas militares, caguetado por um maldito eletricista. Chamado à residência dos Gomes pra resolver um perrengue técnico, o sujeito percebeu fuzis depositados no forro da casa, dos de repetição e dos semiautomáticos. E a delação que fez...  azou algemas.

O Varguismo achara de proibir armas de fogo de certos cunhos, separando as tais, de maneira estupida e (até hoje) defi nitiva, entre armas “que matam mais” e armas “que matam menos”. Armas de uso privativo e/ou restrito e armas de uso permitido (risos, ou lágrimas aqui ?). E toda a matéria fecal começava ali. Engolia do Varguismo meu velho Mario, não somente o desgosto da capitulação do Exército Constitucionalista, mas também o amargor de amigos seus sofrendo penas injustas, decorrentes de normas ainda mais injustas, criadas pra proteger do povo governo tirano.

Foi pra mim da vida “um toque”. Do velho Mario “um toque”. Uma história do tipo “presta atenção, rapaz”. Moleque duns catorze, isso por volta de 1987, que já lia MAGNUM e não entendia o porquê de não poder aspirar a compra duma Colt .45 numa Bayard da vida, eu começava a entender ali que a questão arma de fogo no BR era falsamente tratada como doença, pra justifi car uma ou algumas séries de problemas políticos graves e provavelmente eternizáveis (...).

Uns dez anos depois, eu tive uma “sogra”. Sim, entre aspas, porque mãe de namorada. Namorada que, graças ao bom Deus, não transformei em esposa. De nome Luiza, essa senhoraça tinha o perfeito e cinematográfi co estereótipo da sogra-problema. Presumida, inconveniente, ciumenta, inda por cima gordalhufa e inarmônica. Até uma penugem, semelhante a barba, havia naquele rosto mal talhado, grave, amarelo e nada saudoso.

Tal senhoraça residia em maior parte do ano num apartamento de luxo em PT, em Lisboa. Numa de suas estadias no BR, numa conversa, ou discussão, a que hoje eu chamaria de pura afronta, ela achou de apontar em mim os defeitos meus e também os projecionais. Não sem dedo em riste; é claro que não. E, a certa altura do evento, como se fosse bravata de criancinha pontuando briga - naquele estilo “...você é bobo e cocô, tou de mal, seu pé tá sujo, seu cachorro é velho...”, ou seja, coisa apelativa e sem patavina a ver com o mote -, a loura cuidou de dizer que o meu gosto por coleção de armas de fogo estava com os dias contados. Mundialmente contados. Elas seriam banidas (as civis, é claro) pela ONU.

Apesar de todo o ridículo, as entrelinhas foram pra mim da vida outro “toque”. Acumulável em mesmo embornal daquele que, anos antes, tinha vindo do Tio Mario. Era coisa de 1996, caminhando pra 97. Esse último, ano em que o esquerdo e esquerdíssimo sociólogo FHC veio com intensifi cação das balelas ONU concernentes ao desarmamento civil. Ali eu contava vinte e poucos anos. Uns vinte e três. Dali pra cá, minha vida é quase completamente tomada pela sombra da maldita, impura, vil e desacertada mochadura civil. Tomada pela ideia de que, muito e muito além da possibilidade de assistir à perda de viabilidade do meu hobby, eu possa assistir ao colapso político mundial, com implantação dum governo mundial, uno. Ou, ao espelho, ONU.

O caso de Olivo Gomes, contado pelo velho Mario, foi recado duma raposa prateada do universo político interno. Falecido em 1993, alguém que sabia, pelos bastidores, como o pito tocava. Alguém que sabia, por exemplo, que o bipartidarismo MDB / ARENA era fake, cenográfi co, nada sincero. Meu velho Mario era dum anti-Varguismo que conhecia a tática desarmamentista tirana e seu escopo fundamental.

Já a profecia da bruxa, a “sogra” bocuda, era recado duma pessoa muito bem...  digamos...  informada. Pessoa cujo cunhado - dela amigo e próximo, além de cunhado - era alto funcionário, topo-de-linha da Odebrecht, organização que já tava pra lá de envolvida com o governo federal de então, na mais esquerda das acepções do verbo envolver. Além disso, ela própria era pessoa que vivia na Europa, a maior parte do ano, havia tempos, na condição de esposa-acompanhante-conselheira dum insider, vez que o marido-acompanhado-orientado fosse braço direito duma família de banqueiros do BR, diretor designado à missão europeia de ajeitar um certo banco português, ali recém-conquistado, e que naturalmente tivesse acesso a informações do “sistema”. De como o “sistema” é - de verdade - e de verdade funciona. Nunca me restou NENHUMA dúvida disso.

Do contado até aqui, parte das minhas certezas acerca da rádica do desarmamento civil. Certezas nacionais e internacionais, incrementadas por um sem-número de precisas e preciosas informações que, graças à internet, tiveram e tem origem em Olavo de Carvalho, Benedito Barbosa Junior, Luiz Felipe Pondé, Coronel Paes de Lira, no já falecido Luiz Afonso dos Santos...  também noutros bons manadeiros de conhecimento acerca das políticas, a verdadeira e a cenográfi ca, bem como acerca do acúmulo inexorável de mentiras que desta última decorre.

Vivendo o amor atávico que tenho pelas armas de fogo, particularmente aquelas partejadas entre 1850 e 1950, vivo também o medo extremo da perda. Porém...  porém...  porém...  é através desse medo que me motivei a estudar política como pude e que, naturalmente, me tornei uma espécie estranha de teórico da conspiração, observador frio e, contraditoriamente, um indignado visceral.

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